Gol relâmpago, plano de jogo e atuação dos protagonistas
Quatorze segundos. Foi esse o tempo que o Botafogo precisou para marcar e construir a vitória por 1 a 0 sobre a LDU Quito, no Estádio Nilton Santos, no dia 14 de agosto de 2025, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. O lance que decidiu a noite nasceu dos pés de Alex Telles: cruzamento preciso da esquerda, bola medida na cabeça de Artur, que finalizou de canhota e abriu o placar. Um início fulminante, que casou com a estratégia do técnico italiano Davide Ancelotti.
O recorte do jogo explica muito do que o Botafogo vem tentando ser sob Ancelotti: equipe compacta, recuperação rápida e ataque vertical. O gol relâmpago não foi um acaso isolado. O time adiantou a marcação logo após o apito inicial, forçou o erro na saída da LDU e acelerou pelo corredor onde Alex Telles é mais forte. Quando a defesa equatoriana tentou recompor, a bola já estava na área.
Depois da vantagem, o plano foi controlar sem abdicar de atacar. Ancelotti mexeu bastante no setor ofensivo para buscar o 2 a 0 e não deixar a LDU respirar. Entraram Matheus Martins, Nathan Fernandes e Joaquín Correa para dar gás e variar a última bola. O trio encontrou espaços, acelerou pelos lados e empurrou a linha de defesa adversária para dentro da área. Faltou capricho no último toque, mas a ideia ficou clara: manter o jogo no campo do rival.
Do outro lado, a LDU tentou esfriar o ritmo. Trocas curtas, posse mais longa e paciência para explorar as costas dos laterais. Mesmo assim, a defesa do Botafogo respondeu bem. John foi seguro nas bolas aéreas e nas finalizações de média distância; David Ricardo venceu duelos importantes pelo chão e simplificou quando precisou. Foi uma atuação madura para um duelo de mata-mata.
O destaque técnico fica com Alex Telles. Além da assistência, o lateral liderou a saída pela esquerda, alternou cruzamentos com passes por dentro e ajudou a fechar o corredor quando a LDU acelerou por ali. É a combinação de experiência europeia com leitura de jogo que faz diferença em noite grande de Libertadores.
Vale um ponto de atenção: o autor do gol foi Artur, homônimo do centroavante Arthur Cabral. São perfis diferentes. Artur atacou o espaço no lance do 1 a 0; Arthur Cabral, peça importante do elenco, oferece presença diária na área, pivô e jogo físico para outro tipo de cenário — sobretudo quando é preciso segurar zagueiros e alongar a posse.

O que muda para a volta em Quito e como o elenco foi pensado
A vitória por 1 a 0 leva o Botafogo com vantagem mínima para Quito. Não há gol qualificado na Libertadores: se o agregado terminar empatado, a vaga é decidida nos pênaltis. Ou seja, cada detalhe conta. E tem a altitude — são cerca de 2.850 metros. A LDU conhece o ambiente como poucos e, em casa, costuma aumentar a intensidade, acelerar transições e testar o fôlego do adversário no segundo tempo.
Esse contexto ajuda a entender a convocação e a ideia de jogo para a ida. O Botafogo misturou jogadores experientes com promessas da base para montar um banco versátil e capaz de responder a diferentes cenários. Entre os nomes relacionados estavam Alex Telles, Arthur Cabral, David Ricardo, John, Newton e Savarino. Cada um cumprindo um papel bem definido.
- Alex Telles: referência técnica na bola parada e nos cruzamentos. Abre o campo, dá qualidade na saída e decide com um passe — como no gol.
- Arthur Cabral: 9 de área clássico, bom pivô e presença física para duelos na zona central. Útil para segurar zagueiros e atacar cruzamentos.
- David Ricardo: zagueiro firme, leitura de cobertura e boa primeira bola. Importante para quebrar linhas com passes médios.
- John: goleiro seguro, com bom tempo de bola aérea e reflexo. Essencial em mata-mata quando o rival cruza muito.
- Newton: promessa da base, energia e perna para sustentar intensidade na reta final. Opção que dá profundidade ao elenco.
- Savarino: velocidade, 1x1 pela direita e diagonais curtas. Ajuda a atrair marcação e abrir corredor para o lateral.
Do banco, Ancelotti acionou peças de velocidade — Matheus Martins e Nathan Fernandes — e um atacante com repertório mais híbrido, Joaquín Correa, que pode cair pelos lados ou jogar por dentro. A ideia foi manter o adversário sob pressão e, de quebra, testar combinações pensando na altura de Quito, onde o frescor físico costuma pesar.
Outro ponto que a comissão técnica deve carregar para a volta é a gestão de ritmo. Em Quito, não dá para correr atrás da bola por 90 minutos. O time precisa de fases claras de posse para respirar e de momentos calculados para agredir. A vantagem de um gol permite esse jogo mais frio, com ataques escolhidos a dedo e linhas mais compactas no meio-campo.
A LDU, campeã continental em 2008, vai exigir atenção nas bolas paradas e nos cruzamentos de média altura — jogadas que crescem com o ar rarefeito. Para isso, a dupla de zaga precisa repetir a noite segura do Nilton Santos, com laterais fechando por dentro quando a bola estiver no lado oposto. John, pela leitura de bola alta, volta a ser peça-chave.
No ataque, o Botafogo deve explorar o lado forte onde Alex Telles opera e alternar com inversões rápidas para Savarino atacar o 1x1. Se Arthur Cabral ganhar minutos, a equipe ganha a opção de empilhar cruzamentos rasteiros e altos, além de brigar pela segunda bola na entrada da área. Matheus Martins e Nathan Fernandes, pela vitalidade, podem ser os coringas para os 20 minutos finais.
Há, claro, o elemento emocional. O Nilton Santos abraçou o time, e o 1 a 0 em casa costuma dar confiança. Mas jogo fora, em altitude, é outra história. A vantagem é curta e obriga concentração total. O bom sinal é que o Botafogo mostrou um plano claro, executou bem e tem peças para ajustar o roteiro conforme a partida pedir.
No fim, o recado da ida é direto: quando ajusta pressão e transição, o Botafogo é perigoso. E quando Alex Telles tem tempo para levantar a cabeça, a bola chega onde precisa. O confronto Botafogo x LDU segue aberto, mas o time brasileiro leva para Quito algo que não se compra: resultado e convicção.