Alexandre de Moraes determina que militares troquem uniforme por roupa civil nas investigações da suposta trama golpista

Alexandre de Moraes determina que militares troquem uniforme por roupa civil nas investigações da suposta trama golpista

Entenda a decisão de Alexandre de Moraes

Na manhã de segunda‑feira, o ministro Alexandre de Moraes deu um toque de recolher nas fardas. Ele determinou que os militares acusados de participar de um suposto plano para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva não podem ser atendidos em uniforme nas oitivas. A ordem saiu no meio da entrevista do chamado "núcleo 3", grupo que reúne nove militares e um policial federal suspeitos de conspirar para romper a ordem institucional.

Segundo o auxiliar de juiz, Rafael Henrique Tamai Rocha, que conduzia o interrogatório, a lógica é simples: a acusação recai sobre os indivíduos, não sobre o Exército como um todo. Por isso, os acusados devem responder como cidadãos comuns, sem o símbolo da corporação que, de outra forma, poderia ser associado ao caso.

Dois tenente‑coronéis — Rafael Martins de Oliveira e Hélio Ferreira Lima — apareceram na videoconferência ainda usando a farda. A equipe de Moraes pediu que eles saíssem da chamada para trocar de roupa. Enquanto isso, a defesa de Rafael Martins argumentou que, estando preso em uma unidade militar, ele é obrigado a permanecer uniformizado o dia inteiro.

Reações das partes envolvidas

Reações das partes envolvidas

Os advogados dos acusados protestaram que a medida configura um constrangimento ilegal e fere a dignidade humana. Eles alegaram que não há respaldo legal para exigir que oficiais de serviço penal vistam roupas civis, ainda mais quando o próprio presídio impõe o uniforme como regra. A defesa questionou ainda a transparência da decisão, afirmando que não foi apresentada nenhuma norma que obrigasse a troca.

Do lado do Exército, a resposta foi mais conciliadora. Conforme reportou a colunista Carla Araújo, o comando do Exército — liderado pelo general Tomás Paiva — mantém um relacionamento institucional amigável com Moraes. Generais expressaram satisfação discreta ao ver que a farda foi retirada da bancada dos réus, pois isso ajuda a separar a responsabilidade pessoal da reputação da instituição.

Em nota oficial, o Exército explicou que não há orientação institucional sobre o uso de uniforme em procedimentos judiciais; a determinação partiu exclusivamente do ministro. A postura parece indicar que as Forças Armadas preferem evitar que o debate público se transforme em uma discussão sobre a identidade da corporação, concentrando-se nos atos individuais dos acusados.

Até o momento, o processo ainda está em fase de coleta de provas e depoimentos. O que se sabe é que a mudança de vestimenta pode influenciar a percepção dos jurados e do público, reforçando a ideia de que o caso trata de atos de alguns militares, não de uma conspiração institucional.

O cenário ainda está evoluindo, e a comunidade jurídica acompanha de perto os próximos passos. Enquanto isso, os réus deverão comparecer às próximas sessões já em trajes civis, obedecendo à ordem que, para o ministro, garante a imparcialidade e a distinção necessária entre o indivíduo e a instituição militar.