Morte de coreógrafo Fábio de Mello gera confusão com padre homônimo nas redes

Morte de coreógrafo Fábio de Mello gera confusão com padre homônimo nas redes

O carnaval carioca perdeu um de seus arquitetos mais influentes quando Fábio de Mello, coreógrafo e mestre da comissão de frente, faleceu aos 61 anos em 28 de janeiro de 2025, no Rio de Janeiro. A notícia, confirmada pelo G1, O Globo e Diário de Pernambuco, desencadeou uma onda de confusão nas redes sociais — muitos acreditaram, por alguns minutos, que era o padre Fábio de Melo que havia morrido. A diferença? Um ‘l’ a mais no sobrenome. Mas, como se viu, isso não foi suficiente para impedir a desinformação.

Um legado na Marquês de Sapucaí

Fábio de Mello foi o nome por trás das comissões de frente mais icônicas da história do Carnaval do Rio. Durante mais de duas décadas, ele transformou o quesito em uma verdadeira obra de arte viva. Sua parceria com a carnavalesca Rosa Magalhães na Imperatriz Leopoldinense rendeu 11 anos consecutivos de nota máxima no quesito — algo inédito na Avenida. Seis Estandartes de Ouro, cinco títulos da Rainha de Ramos (1994, 1995, 1999, 2000 e 2001), e um estilo que virou referência: elegância, precisão e emoção em cada passo.

A diretoria da Imperatriz, liderada pela presidente Catia Drumond, divulgou nota oficial chamando a perda de “irreparável”. “Fábio revolucionou o quesito nos anos 1990. Ele fez a verde, branco e dourado voar na Marquês de Sapucaí. Seu trabalho não se mede em pontos, mas em memórias”, afirmou a nota, lida em todos os canais da escola.

A confusão que virou viral

Menos de uma hora após a confirmação da morte, o X (antigo Twitter) explodiu com mensagens como: “MORREU O PADRE FABIO DE MELO, QUE COMO ASSIM?”. O erro se espalhou como fogo em capim seco. Muitos compartilhavam frases de conforto que, na verdade, eram destinadas a outro homem. A confusão só aumentou porque o padre Fábio de Melo, nascido em 1964, também tem 61 anos — e, recentemente, havia falado abertamente sobre sua luta contra a depressão em entrevistas e redes sociais.

“Quando alguém fala de saúde mental com tanta vulnerabilidade, o coração das pessoas se aperta. E quando surge uma notícia de morte com um nome parecido… o medo toma conta antes da verificação”, explicou Luciana Lopes, analista de mídia do Boatos.org. O site, fundado em 2006 e referência nacional em checagem de fatos, já havia desmentido em 2024 uma fake news semelhante que afirmava a morte do padre junto com Sérgio Reis e Silvio Santos — todas falsas.

Por que isso acontece? O contexto da desinformação

Não é coincidência. O padre Fábio de Melo tem mais de 10 milhões de seguidores nas redes. Ele é apresentador de TV, escritor best-seller e sacerdote católico — uma figura profundamente querida e, por isso, vulnerável a boatos. Já Fábio de Mello, embora respeitado no mundo do samba, não tem o mesmo alcance midiático. Seu nome não aparece nos trending topics. Mas, quando a morte é anunciada, a similaridade fonética e a mesma idade criam um “gatilho emocional”.

“As redes sociais não verificam. Elas reagem. E quando a emoção é forte — como o medo da perda de alguém que inspira — a lógica some”, diz o jornalista Ricardo Almeida, especialista em comunicação digital. “Isso não é só um erro de digitação. É um sintoma de uma cultura de consumo rápido de informação, onde o sentimento vence a veracidade.”

As consequências de um nome errado

As consequências de um nome errado

A confusão teve efeitos reais. Família de Fábio de Mello recebeu centenas de mensagens de condolências destinadas ao padre. Amigos da comunidade do samba tiveram que sair da rotina para esclarecer o erro. E o padre, por sua vez, foi obrigado a publicar um vídeo no Instagram dizendo: “Estou vivo, em paz, e agradeço o carinho. Mas hoje, o luto é de outro Fábio — um artista que fez o Carnaval dançar.”

Enquanto isso, a Imperatriz Leopoldinense anunciou que, no Carnaval de 2026, dedicará sua comissão de frente à memória de Fábio de Mello — com uma coreografia inspirada em suas obras mais marcantes. “Ele não foi só um coreógrafo. Foi um poeta do movimento”, disse Catia Drumond.

O que vem a seguir?

Boatos.org anunciou que vai lançar uma campanha educacional sobre “nomes parecidos e fake news”, com foco em figuras públicas com homônimos. A ideia é criar um sistema de alerta visual nas redes — como um ícone de verificação para nomes que já foram confundidos antes. O próprio Google já começou a exibir, em buscas por “Fábio de Melo”, uma nota explicativa: “Você procurou por Fábio de Melo? Também há Fábio de Mello, coreógrafo falecido em 28/01/2025.”

Enquanto isso, o legado de Fábio de Mello segue vivo. Nas escolas de samba, jovens coreógrafos já estudam seus vídeos. Na Marquês de Sapucaí, o silêncio antes do desfile, em 2026, será de 61 segundos — um por cada ano de sua vida.

Frequently Asked Questions

Por que a confusão entre Fábio de Mello e Fábio de Melo aconteceu?

A confusão ocorreu por três fatores: os nomes são quase idênticos (diferença apenas na grafia de ‘Mello’ e ‘Melo’), ambos têm 61 anos, e o padre Fábio de Melo havia falado recentemente sobre sua luta contra a depressão, criando um contexto emocional que tornou a notícia falsa mais crível. As redes sociais reagem mais rápido do que verificam, especialmente quando envolvem figuras populares.

Quais foram as principais conquistas de Fábio de Mello no Carnaval?

Fábio de Mello garantiu 11 anos consecutivos de nota máxima na comissão de frente da Imperatriz Leopoldinense entre os anos 1990 e 2000, conquistou seis Estandartes de Ouro e contribuiu para cinco títulos da Rainha de Ramos (1994, 1995, 1999, 2000 e 2001). Sua parceria com Rosa Magalhães revolucionou o quesito, transformando-o de um mero desfile em uma performance artística.

O padre Fábio de Melo está realmente morto?

Não. O padre Fábio de Melo está vivo e saudável. Ele mesmo confirmou isso em um vídeo publicado no Instagram após a confusão. A notícia de sua morte foi uma fake news que circulou por engano, devido à semelhança do nome e à idade igual. O Boatos.org já desmentiu esse boato em 2024 e voltou a corrigi-lo em janeiro de 2025.

Como a Imperatriz Leopoldinense vai homenagear Fábio de Mello?

A escola anunciou que, no Carnaval de 2026, a comissão de frente será dedicada à memória de Fábio de Mello, com uma coreografia baseada em suas criações mais marcantes. Além disso, haverá um minuto de silêncio de 61 segundos — um por cada ano de sua vida — antes do desfile, e um painel com fotos e frases suas será instalado na sede da escola.

Esse tipo de confusão já aconteceu antes?

Sim. Em 2024, boatos falsos afirmaram que o padre Fábio de Melo, Sérgio Reis e Silvio Santos haviam morrido — todos desmentidos pelo Boatos.org. Esses episódios fazem parte de um padrão recorrente no Brasil: nomes parecidos, figuras públicas com grande alcance e contextos emocionais (como saúde mental) criam terreno fértil para fake news.

O que pode ser feito para evitar esse tipo de erro no futuro?

Especialistas sugerem campanhas educativas sobre verificação de fontes, alertas visuais em redes sociais para nomes frequentemente confundidos, e a prática de incluir informações adicionais — como profissão ou local de atuação — ao mencionar nomes comuns. O Google já começou a exibir notas explicativas em buscas, e o Boatos.org planeja lançar uma ferramenta interativa para identificar homônimos em tempo real.